3. Os segredos dos grandes videoclips

Miyamoto:

O Tezuka-san foi o produtor do Wii Music, mas também foi o analista durante todo o tempo.

Iwata:

Ao mesmo tempo que tínhamos músicos profissionais a trabalhar nisso, também tínhamos um principiante! (risos) Mas ele é um profissional a fazer jogos de vídeo.

Miyamoto:

O Tezuka-san orientou o desenvolvimento e no fim fez um videoclip.

Iwata:

Como ficou?

Totaka:

Ficou… Pode-se dizer que foi de muito, muito, muito bom gosto.

Todos:

(risos)

Totaka:

Ele escolheu a música do Super Mario Bros., mas a forma como a tocou parecia mais “Occasionally Super Mario Bros.” A maior parte da música parecia que tinha sido dividida em partes.

Iwata Asks
Iwata:

Em partes? (risos)

Totaka:

É verdade, não se percebia a música original! (risos) Mas uma vez por outra era possível ouvir um fragmento do tema do Mario. Quando a ouvi, fiquei impressionado. Não pensei que conseguia fazer algo assim.

Kobayashi:

O Tezuka-san gosta mesmo de música. Como ouvinte, ele percebe todos os tipos de músicas. Como posso dizer, ele tem o seu próprio sentido rítmico.

Iwata:

(risos)

Miyamoto:

Não há esperança para um dos meus conhecidos no que respeita à música. Quando ele fez um videoclip e o mostrou a alguns amigos, ficaram surpresos que alguém conseguisse alterar tanto uma música. Mas ele parecia satisfeito em ouvir aquilo. (risos) Quando disse ao Tezuka-san, respondeu que ele parecia feliz e o que o seu videoclip também estava horrível. (risos)

Todos:

(risos)

Miyamoto:

Não há muitas músicas agradáveis que se possa dizer que estão alteradas ou horríveis e ainda seja divertido falar delas. Ainda que algumas músicas avant-garde sejam assim.

Totaka:

Música avant-garde, sim. Com o Wii Music seria fácil tocar Twinkle, Twinkle, Little Star numa forma avant-garde – com muito ruído – e ainda fazer soar como o original, mas se tentasse tocar ao vivo ou seguisse uma partitura, seria bastante difícil.

Miyamoto:

Os videoclips são como bandas desenhadas. Comecei a desenhar banda desenhada de 4 quadradinhos nos meus tempos de escola. Não havia restrições para o que se podia fazer, desde que se mantivesse fiel à estrutura básica do quadrado. Da mesma forma, desde que se preserve o minuto e meio do tempo, pode-se fazer o que se quiser. Por isso é que é um reservatório de criatividade ilimitada. (A banda desenhada de 4 quadradinhos (manga de quatro quadradinhos) é uma forma popular para os principiantes aprenderem a estruturar a base de uma história no Japão. A história deve ser contada em quatro quadradinhos, com os acontecimentos principais a ocorrerem em cada quadradinho. O começo da história começa no primeiro quadradinho, seguindo-se a acção, o clímax e o último quadradinho revela o fim.)

Iwata Asks
Totaka:

Quero que os jogadores apreciem os próprios arranjos, experimentando estilos diferentes.

Miyamoto:

Quando era mais novo, houve um músico que fez uma versão rock da Sinfonia nº5 do Beethoven. Pode-se fazer facilmente algo parecido com o Wii Music. Pode-se tocar qualquer música em estilo rock.

Iwata:

Muitas pessoas já fazem isso.

Totaka:

Num serviço de partilha de vídeos, vi um dueto de voz e guitarra a tocar Troika. As personagens eram desenhos animados famosos e o palco era o Galactic Voyage. Quando vi aquilo fiquei sem palavras! (risos)

Iwata:

Já agora, soube que depois do desenvolvimento ter terminado, os membros da equipa fizeram um DVD com os próprios videoclips.

Totaka:

É verdade. É bastante interessante. Não me canso de o ver. (risos)

Miyamoto:

Os videoclips que fizeste são perfeitos. Como é que conseguiste?

Totaka:

O compasso está definido.

Iwata:

Se não conseguisse o compasso, o restante não ficaria tão bem.

Totaka:

Exactamente.

Miyamoto:

Como é que alguém pode fazer um como esse?

Totaka:

Praticando o Rhythm Heaven. (De Dez. de 2008, o jogo Rhythm Heaven da Nintendo DS só foi lançado no Japão)

Iwata Asks
Todos:

(risos)

Miyamoto:

Ok, supondo que sou bom no Rhythm Heaven, com que parte devo começar no Wii Music, Totaka-sensei? (risos) (Sensei significa “professor” em japonês)

Totaka:

(risos) O Taiko. Começa com a percussão.

Iwata:

Compreendo. Em primeiro lugar, estabelece-se um compasso que sirva como espinha dorsal da música.

Totaka:

Exactamente. Depois segue-se o baixo. Devo referi-los por ordem?

Iwata:

Sim, por favor. Revela-nos os segredos do Totaka-sensei para realizar grandes videoclips. (risos)

Miyamoto:

O presidente e o director executivo sénior vão ouvir-to atentamente. (risos)

Totaka:

Revelando-os por ordem, existem primeiro duas partes de percussão, depois o baixo, o acorde, a harmonia e a melodia.

Miyamoto:

O mesmo de uma aula.

Totaka:

Exacto. Referindo-os de forma sucinta! (risos)

Iwata Asks
Miyamoto:

Retiraste a melodia principal? Se deixares a melodia, é difícil fazer arranjos porque te prende, não é?

Totaka:

Normalmente, deixa-se tocar como guia da música, mas se quiser fazer grandes alterações ao ritmo—por exemplo, torná-lo mais forte—atrapalha.

Miyamoto:

Então não se compara com a melodia?

Totaka:

Não, desligo-a.

Miyamoto:

Isso é que é ser profissional!

Totaka:

Por vezes uso um pequeno truque. Por exemplo, abrando o tempo quando toco bateria e começo a adicionar e depois volto ao tempo normal no final. Se tocar partes difíceis num tempo lento…

Iwata:

Ahh, não tinha pensado nisso! (risos)

Iwata:

Totaka-san, poderias fazer uma análise enquanto vemos os videoclips do pessoal mencionados anteriormente? Pode ser um bom exemplo para ajudar os jogadores a perceberem todas as possibilidades do Wii Music.

Totaka:

Uh...claro. Acho que posso fazer isso. Comecemos com o videoclip do Tezuka-san. (risos)

Miyamoto:

Ok, Totaka-sensei, retira-o daqui! (risos)