Obrigado por teres dispensado algum tempo para falar comigo.
O prazer é meu.
Hoje vamos falar sobre o Wii Music. Gostaria de começar com os teus encontros iniciais com a música.
Os meus encontros com a música?...
Que tipo de instrumentos tocaste ou as músicas preferidas...
O primeiro instrumento que toquei foi a guitarra havaiana.
A guitarra havaiana? Quando é que foi isso?
No ciclo. Não sei em que estavam a pensar, mas os meus pais ofereceram-me uma guitarra havaiana no Natal.
Tens a certeza que não pediste uma?
Não. Talvez tivessem interpretado mal alguma coisa. (risos) De qualquer forma, por algum motivo eles compraram-me a guitarra havaiana quando andava no ciclo. Por isso, comecei a praticar... Uh, estou a dar demasiados pormenores?
Não, de modo algum. (risos)
Ok, vamos lá. (risos) Gosto de praticar muitas coisas e queria praticar a guitarra havaiana à noite, sem me preocupar com o barulho, por isso criei o braço da guitarra sem a restante estrutura. Cortei madeira para criar um braço e depois adicionei os sinais e fios.
Tal como imaginei! Ainda tão pequeno já gostavas de criar coisas com as mãos (risos)
Sim. (risos) Inicialmente, utilizei-o para praticar acordes.
É interessante. O que fizeste depois?
Hum, foi só isso. Não melhorei mais.
Mesmo depois de tanto trabalho?
Sim. Desisti sem melhorar ou tocar com alguém. Outro encontro com a música de que me recordo foi o primeiro disco que comprei. Também aconteceu quando andava no ciclo. Na altura não tinha muito dinheiro, por isso foi necessária muita coragem para o comprar. Nessa altura, eram pequenos discos chamados 45rpm...
Sim, lembro-me. Chamava-se Extended Play Record, ou EP.
Exactamente. O primeiro foi uma grande compra. Tinha quatro músicas!
Quatro? Pensei que os 45rpm só tinham duas músicas.
Eu sei. Eram aberturas, uma espécie de marchas. Por alguma razão, comprei um disco que incluía quatro.
Marchas? Porquê?
Gosto de bandas de metais. Ia ouvir várias vezes os ensaios da banda da escola.
Não fazias parte da banda?
Não, nunca fiz. Existe uma explicação para isso, mas é um pouco complicada. No ciclo, praticava basquetebol, mas queria formar um clube de banda desenhada. Um dos meus colegas disse-me que não podia fazer parte de um clube desportivo e literário ao mesmo tempo e tivemos uma enorme discussão. No fim, apesar de ser um iniciante na equipa de basquetebol, desisti e formei um clube de banda desenhada. Por isso, acabei por ouvir a banda de metal.
Compreendo. (risos)
Mas de que é que estávamos a falar? É verdade, o disco. Tinha músicas como Pompa e Circunstância, Cavalaria Ligeira, Marcha Militar Francesa e a Marcha Radetzky. Enquanto o ouvia sozinho em casa, fazia (olhos fechados e mímica de orientação), da-dum, da-da-dum-dum, da-da-dum-dum-dummmm!
Orientava? Uau! Foi por isso que foste capaz de orientar em frente a todas as pessoas do Kodak Theatre. (? Em 2006, Shigeru Miyamoto abriu a conferência de imprensa da Nintendo no Kodak Theatre ao tocar uma demonstração para o Wii Music.)
Não, não penso que estejam relacionados. (risos) Não fazia nada em particular, apenas apreciava a música e movia-me consoante os sentimentos.
(risos)
Enquanto fazia isso, apareceram os Beatles. O meu irmão apresentou-me a eles e na escola secundária juntei-me ao clube de música popular. Todos tocavam guitarra, menos eu, por isso ensinaram-me a tocar compassos 4/4 na bateria. Aprendi a tocar esses, mas pouco mais.
Parece que tentaste um pouco de tudo. Estou um pouco surpreendido.
Contudo, desisti de tudo a meio. Depois comecei a ir a concertos e a aprender a tocar as músicas dos The Ventures (uma banda americana de surf rock). Na faculdade, estava interessado em Takuro Yoshida (um compositor-cantor japonês que se tornou muito popular nos anos 70). O meu irmão tinha uma guitarra e um banjo, por isso ganhei interesse pela música popular. Durante a faculdade, poupei dinheiro e comprei uma guitarra e uma aparelhagem logo que pude. Nessa altura, os músicos populares no Japão imitavam o antigo estilo de música popular da América. Depois comecei a ouvir os originais. Nesses tempos era louco por essa música. Bem... isso responde à tua questão? (risos)
Sim. Obrigado. (risos)
Porque é que me estou a envolver tanto? (risos)
É fascinante. Se não tivesse tido variadas experiências musicais, talvez nunca fizesse alguns dos jogos que existem. Por exemplo, poderia não ter prestado atenção à música nos jogos do Mario e o Wii Music poderia nunca ter sido criado.
Bem, em parte tem razão e em parte valoriza-me em demasia. Por muito interesse que tenha mostrado pela música, a verdade é que não a entendo.
A sério?
Não tenho capacidade. É uma das razões. Outra é que basicamente imitei a música de outras pessoas. Portanto, apesar de gostar de música, tenho o complexo de não fazer música.
Mas tudo o que referiste está relacionado com o Wii Music.
Hmm, talvez tenhas razão. (risos) De qualquer forma, não achava que tinha possibilidade de me tornar músico, por isso depois de me licenciar, entrei na Nintendo. Na altura, não existiam lá muitas pessoas ligadas à música. Isso era bom para mim, porque podia envolver-me nas questões musicais. Logo que o Koji Kondo e outros que percebem de música se juntaram, isso levou a uma paragem. Achei melhor não falar sobre música. (risos)
(risos)
Depois disso, o número de membros da equipa com conhecimentos musicais cresceu rapidamente. Tinha as minhas ideias sobre música e queria partilhá-las, mas todos estavam a um nível superior, por isso não podia. Até hoje tenho complexos com isso.
Ao ouvir-te falar, consigo perceber isso.
Sim, aí está. (risos) No que respeita a jogos musicais—e não a música para jogos—alguns bons foram desenvolvidos exigindo o premir de botões seguindo uma partitura, mas não representavam muito bem a ideia que eu tinha de música.
Por outras palavras, a maioria dos jogos musicais são divertidos enquanto jogos, mas acha que a música é apreciada de uma forma diferente da sua perspectiva.
É a ideia básica. Quando soube que o director Kazumi Totaka queria levar o Wii Music numa direcção diferente da dos jogos musicais convencionais, pensei: “ Vamos a isso! Será fantástico, por isso fá-lo!” Encorajei-o.
Compreendo.
© 2024 Nintendo.