Então, depois dessa luta de cerca de três meses e de teres ficado de tal modo nervoso que pensaste em desistir, finalmente completaste o tema principal. Qual foi o passo que te ajudou a acabar?
Convidei Miyamoto-san até à sala onde estava compor a música para o jogo e fiz com que ouvisse várias faixas de diferentes estilos. Nessa altura, a única coisa que me preocupava era que Miyamoto-san me indicasse qual a direcção a seguir com a banda sonora. Por isso, escolhi três temas para ele ouvir: um com o som de uma orquestra, outro com uma mistura entre som de orquestra e música pop e o último era música pop. Nessa altura, não lhe disse quem tinha composto o quê. Ele escolheu o “Egg Planet” e disse: “Vamos avançar com este estilo.” Por favor ouçam.
Dá para perceber só de ouvir, mas não usaste tambores neste tema e a sonoridade tropical que estava presente nos jogos anteriores Mario também desapareceu.
Este tema foi utilizado na E3 do ano passado também, não foi?
Foi aliás escrito por Kondo-san. Miyamoto-san escolheu a música de Kondo-san sem saber quem a tinha feito. Isto reforça a ideia de que Kondo-san conhece realmente a série Mario. Estava tão nervoso até essa altura, mas no momento, consegui afastar o nervosismo e escolher a direcção da banda sonora do jogo Super Mario Galaxy.
Então para este tema não te limitaste à sonoridade tropical e à música latina.
Exacto. Miyamoto-san disse-me “Isto está óptimo! Parece o mais espacial de todos os temas.” Mas ele nunca disse: “Isto soa mesmo a um jogo Mario.”
Há alturas em que pensas demasiado na “sonoridade Mario”, chegas a ter música que é tão pouco natural que até custa a ouvir enquanto jogas, e acaba por não soar nada a um jogo Mario. Em última instância, penso que é a música que encaixa no ritmo de jogo que acaba por construir a sonoridade dos jogos Mario.
Apesar de os sons tropicais em Super Mario Bros. terem deixado uma forte impressão no ouvinte, o estilo da música variava completamente dependendo do nível. A música expressava a atmosfera do mundo do jogo. Uma vez que Miyamoto-san estava à procura de uma sonoridade que expressasse o mundo do Super Mario Galaxy, deve ter dito que o teu trabalho soava “espacial” em vez de “parecido com Mario” porque ele queria revelar o ambiente espacial na música também. Porque estudou design industrial, Miyamoto-san aborda as coisas em termos de funcionalidade primeiro, e deve ter desejado que a música ajudasse o design para que o mundo do jogo ganhasse vida.
Também penso assim.
Mas porque ninguém conseguiu expressar isso por palavras, tiveste alguma dificuldade durante um bom bocado de tempo.
Em retrospectiva, o tempo em que passei dificuldades para construir uma música que soasse a um jogo Mario talvez tenha sido uma perda de tempo, mas por ter lutado tanto, o impacto após ter entendido estas coisas foi também mais forte. Depois Kondo-san acabou por dizer que a música que fiz a partir desse ponto “se tornou natural”.
O que queres dizer com “”natural”?
A impressão de que a música tentava ser como a dos anteriores jogos Mario tinha desaparecido. Antes disso, muitas partes pareciam tentar secretamente copiar a sonoridade Mario, e a presença desses elementos fez o som parecer pouco natural.
Talvez o facto de algumas faixas tentarem imitar algo que não eram foi o que colocou entraves para os ouvintes.
Porque era algo que não surgiu naturalmente ao criador, não fui capaz de aceitar. Mas o facto é que é complicado explicar algo assim em palavras, por isso penso que Yokata-san deve ter passado um mau bocado! (risos)
(risos)
E tu, Kondo-san, já tiveste dificuldades parecidas? Há tanto tempo que tens estado a trabalhar com Miyamoto-san no som, naturalmente deves ter passado por muitas destas dificuldades também, não?
Eu estou sempre em dificuldades! (risos) Mesmo tendo sido eu a compor a música, tenho sempre dificuldades em torná-la diferente da anterior e em fazê-la soar a novidade.
Compuseste quatro temas para este jogo; como é que acabou por ser o Yokota-san o responsável por a maior parte da banda sonora e não a sua totalidade?
Yokota-san foi o director de som, e ele pediu-me para fazer algumas músicas porque precisava também de algumas faixas feitas por mim, por isso trabalhei em peças para algumas cenas.
Quando toda a música é feita por uma só pessoa, acaba por soar tudo ao mesmo. Se uma peça que esteja a tocar num momento importante do jogo soar igual a outra peça usada noutro momento, não deixará nenhuma impressão no jogador.
Querias que houvesse variedade.
Exacto. Por isso, pedi a Kondo-san para trabalhar em algumas músicas porque queria misturar peças com som em certas cenas do jogo.
“Usa bem o teu chefe.” Isso é uma grande tradição na nossa empresa! (risos)
(Revelando alguma tristeza) Pensei que poderia ter feito mais peças para este jogo, mas acabaram por ser bem menos do que esperava…
O quê? Porque não me disseste isso enquanto ainda estávamos a trabalhar no jogo?!
(gargalhadas)
Mas Yokota-san trabalha a um ritmo tão rápido, criando peças umas atrás das outras. Fiquei impressionado com a velocidade a que trabalhaste.
Desde que fui nomeado responsável pela música deste jogo, não queria ser um empecilho para Kondo-san. Não te prometi que iria trabalhar sozinho o máximo que pudesse, e que apenas te pediria ajuda se estivesse realmente com problemas?
…Bem, penso que sim.
(risos)
Mesmo assim, ser nomeado responsável pelo som do novo jogo Mario deve ter colocado muita pressão sobre ti.
Claro, tanta que pensei em despedir-me! (risos) O Mario é, apesar de tudo, o título representativo da Nintendo, Mas, pelo menos, penso que consegui retratar a imensidão do espaço em Super Mario Galaxy, que penso que foi algo que apenas poderia ser expresso pela magnífica grandiosidade de uma orquestra.
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