E agora, finalmente, passamos a Takeshi Nagareda. Qual foi a tua reacção quando Takao Sawano e a sua equipa te trouxeram este protótipo?
Pensei: “No que me fui eu meter?” (risos) O protótipo era uma tábua de madeira rectangular com quatro pernas acopladas e usava dois comandos da Wii para mandar sinais sem fios. A partir daquele protótipo, desenvolvemos outro.
Esta prancha mede 32 cm de largura; por outras palavras, é demasiado estreita e não permite demasiada mobilidade. Também precisa de estar ligada a um comando da Wii o tempo todo, como um Nunchuk, pelo que pensei que seria conveniente ter um espaço para guardar o comando da Wii. Com estas directrizes desenvolvi mais dois protótipos.
Unir o Wii Balance Board ao Comando Wii significaria uma redução de custos de produção. Não teria sido necessário incorporar elementos como o botão e os LEDs ou a funcionalidade sem fios. Para além disso, o Comando Wii tem um sistema de alta voz integrado, e pareceu-nos que a ideia de o Wii Balance Board falar por debaixo dos nossos pés tinha um certo encanto. Esta foi a razão pela qual continuámos a desenvolver o produto nessa direcção durante um certo tempo. Porém, ainda restava a eterna questão sobre o sítio onde colocar o Comando Wii. Não queríamos que as pessoas tropeçassem nele acidentalmente e era impossível alargar mais o cabo para segurar o Comando Wii com a mão.
Pensaram em unir o Comando Wii à base do Wii Balance Board?
Claro que sim. Mas para fazê-lo teríamos de aumentar a espessura do Wii Board e, o que é pior, isso impossibilitaria utilizar o comando da Wii directamente. Queríamos manter o desenho o mais simples possível, para que o Wii Balance Board pudesse suportar bem qualquer tipo de actividade. Adicionar um Comando Wii à base exigiria uma mudança na estrutura e tê-la-ia tornado mais instável. Continuámos a desenvolver diferentes protótipos baseando-nos no método de ensaio e erro até que um dia Shigeru Miyamoto pediu-nos que ampliássemos a largura do Wii Balance Board à largura dos ombros, já que os utilizadores fariam exercícios sobre ela. E assim ampliámo-la para 42 cm.
As sugestões continuavam a mudar de um dia para o outro, não é verdade?
Claro que sim, imediatamente associei isto ao famoso “virar de mesa” de Miyamoto, do qual tanto tinha ouvido falar! (risos)
(risos)
Tivemos em conta todas as suas sugestões, mas compreendi que “virar a mesa” é algo especialmente duro para o desenvolvimento do hardware! (risos)
Alterações de última hora, como estas, no desenvolvimento de hardware podem afectar todo o processo. Suponho que também tenha influenciado o facto de Shigeru Miyamoto ter conhecimentos de desenho industrial e de ser muito exigente no que diz respeito ao desenho. Deve ter sido muito difícil atender aos seus pedidos.
Na realidade, já tínhamos criado um protótipo mais largo anteriormente, mas decidimos que era demasiado grande para ser colocado numa sala. Quando Miyamoto nos pediu depois que ampliássemos a largura da prancha também ressaltou que o desenho ficaria melhor em forma de rectângulo, em vez de quadrado. Primeiramente, ampliámos a prancha para que tivesse a largura dos ombros e depois encurtámos a longitude do Wii Balance Board de forma a que tivesse a medida padrão do pé. Finalmente, o tamanho ficou reduzido ao que vemos aqui. A Divisão de Análise e Desenvolvimento do Entretenimento tinha-nos pedido duas coisas. A primeira era que o Wii Balance Board pudesse medir as alterações diárias no peso de uma pessoa. Se alguém bebesse sumo e engordasse 200 g, o Wii Balance Board deveria ser suficientemente exacto para registar essa alteração. O outro pedido era que tinha de detectar as variações no equilíbrio de uma pessoa. Como Takao Sawano mencionou antes, o Wii Balance Board devia enviar 60 sinais por segundo para informar sobre a variação no equilíbrio do utilizador.
Queria acrescentar também que a Nintendo realiza provas de todo o tipo para se assegurar de que os dispositivos de hardware não se estragam se forem acidentalmente pisados. Tanto as consolas como os acessórios são submetidos a este teste. No entanto, esta é a primeira vez que criamos um produto de hardware que pode ser pisado a toda a hora! (risos)
(risos)
Isso é verdade. Alem disso, tínhamos que evitar outro tipo de riscos, como alguém lesionar-se ao cair do aparelho, ou este virar-se se alguém se colocar sobre as bordas. Para evitar quedas, o que fizemos foi desenhar o Wii Balance Board o mais baixo possível, e assim continuámos a brincar com o desenho para ver se podíamos tirar um milímetro daqui e outro dali sem sacrificar a robustez do Wii Balance Board. Também acabámos por colocar as pernas nas esquinas para que o risco de se virar seja menor, inclusivamente se alguém se colocar de propósito sobre as bordas. Por fim, já que o Wii Balance Board pesa 3,5 kg, o que não é nada ligeiro, decidimos colocar um material parecido com borracha nas quatro esquinas para suavizar o impacto caso alguém a deixe cair acidentalmente enquanto a transporta.
Criámos um certo desnível na parte superior do Wii Balance Board para que os jogadores saibam onde têm os pés e para evitar, assim, que escorreguem. Supusemos que o Wii Balance Board se utilizaria em superfícies lisas, por isso colocámos borracha nas pernas para evitar que a própria prancha deslize. Contudo, tivemos que escolher cuidadosamente o material para nos assegurarmos de que não derreteria em sítios com aquecimento no chão e outras fontes de calor, e tão pouco deixar marcas no chão.
Depois de todas estas provas, todos os pedidos para tornar o Wii Balance Board mais largo e, entre outras coisas, houve finalmente uma reviravolta de acontecimentos que vos apanhou desprevenidos, não é verdade? (risos)
Deves estar a referir-te ao pedido de integrar uma funcionalidade sem fios no Balance Board. Que pesadelo! (risos) A funcionalidade sem fios do Comando Wii nunca foi um módulo11 independente, mas sim algo integrado na placa base, por isso tivemos de reconstruir o componente sem fios do Comando Wii para poder usá-lo como um módulo que proporcionasse a funcionalidade sem fios no Wii Balance Board. 11 Módulo não integrado que se pode trocar ou tirar facilmente.
Peço desculpa por ter causado tantas dores de cabeça à última da hora!
(risos)
Deve ter sido muito duro para a tua equipa. Recordo que se discutia muito que o produto não estaria pronto para distribuição dentro de um ano se se tivesse de fazer uma mudança estrutural desse género.
Julgo que planificar tudo foi o mais difícil. Primeiro tínhamos de criar uma nova peça de hardware baseada no Comando Wii. Depois precisávamos da aprovação do governo para este módulo, devido à lei de rádio frequência japonesa. Depois, surgiu a preocupação de que em função do sítio onde se colocasse o módulo, os sinais que emitiria poderiam atravessar a estrutura do Wii Balance Board, que era feito de metal de modo a ser mais resistente. E, para além disso, esta era a primeira vez que um acessório diferente do comando da Wii iria comunicar sem fios com a consola Wii e tivemos uma série de problemas quando tentávamos averiguar como a consola Wii diferenciaria os dois sinais.
Imagino que por vezes tenhas tido por vontade de gritar: “Satoru Iwata, és um monstro sem coração!”
Bem, eh...sim (riso forçado) Mas – e que conste que não digo isto porque estás sentado à minha frente – estou muito contente por ter criado um módulo que proporcione a funcionalidade sem fios. Tenho a certeza de que, no futuro, se desenvolverão mais acessórios da Wii, e que alguns poderão não ser ligados ao comando da Wii. Nesses casos, bastara adicionar-lhes o módulo para que tenham a funcionalidade sem fios. Os projectos futuros deste género serão muito mais simples, creio eu.
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