Hoje damos as boas-vindas a Yoichi Kotabe. Ele quase dispensa apresentações, uma vez que é um dos mais proeminentes animadores do Japão.
Devido ao seu trabalho como ilustrador oficial para a série Mario, e à forma como melhorou o mundo artístico de muitos dos produtos da Nintendo, penso que a união da Nintendo com Kotabe-san foi um acontecimento extraordinário.
Kotabe-san está actualmente reformado da Nintendo mas activo como criador individual, e fez a viagem até Quioto porque eu queria falar com ele por ocasião do lançamento do Flipnote Studio. Obrigado pela tua presença aqui hoje.
É um prazer.
Antes de falarmos sobre como o teu caminho se cruzou com o da Nintendo, gostaria de te perguntar o que fazias antes. Como foi o teu primeiro encontro com a animação?
Prima di questa intervista, Koizumi-san dell’ufficio di Tokyo mi ha mostrato Flipnote Studio. Gli ho chiesto a cosa servisse, e lui mi ha risposto che con questo prodotto si può fare un’animazione flick book. Mi ha sorpreso il fatto di poter fare una cosa simile con un videogioco, ma mi è venuta in mente un’altra cosa.
È con l’animazione flick book che è nata l’animazione tradizionale. Io sono entrato in questo mondo attraverso l’animazione flick book.
Como assim?
O meu pai pintava quadros a óleo, e em criança eu gostava de arte. Estava sempre a ler manga e a copiar os desenhos. Mas foi a minha mãe que me envolveu directamente na animação.
A tua mãe também desenhava?
Não desenhava muito, mas quando eu estava na escola primária ela mostrou-me a animação tipo flick book. Desenhou um boneco linear nos cantos das páginas dos meus manuais. Acho que o boneco estava a fazer exercício. Quando vi como se movia fiquei surpreendido. Tentei sozinho e desenhei algumas animações tipo flick book com figuras lineares. Ainda hoje me lembro como o boneco saltava para uma barra, girava em torno dela, e depois caía. Depois disso sempre me interessei por imagens em movimento.
A influência da mãe pode ser poderosa.
Eu era o mais velho de cinco filhos. Quando era pequeno, ela batia-me com uma régua.
Foste criado num ambiente severo.
Ainda assim, quando fui para a escola, pouco mais fazia além de gatafunhos.
Isso deve ter sido a influência do teu pai.
Suponho que sim. À medida que crescia fui gostando cada vez mais de arte, mas tornei-me um aluno cada vez pior.
Deves ter tido uma forte inclinação para o mundo da arte.
O liceu que frequentei era originalmente uma escola só para raparigas, mas decidiram tentar admitir também rapazes.
Foram os primeiros tempos das escolas de raparigas se tornarem mistas.
É verdade. Era a melhor escola para raparigas em Tóquio, por isso as notas das alunas eram incrivelmente altas. O que fez com que eu odiasse ainda mais estudar. (risos) Quando saí do liceu, perguntei-me o que devia fazer. Os meus pais disseram que eu podia ir para a universidade desde que fosse pública. Nessa altura, por coincidência, um amigo que gostava de arte disse-me que os exames de admissão para os departamentos de pintura japonesa consistiam em nada mais do que pintar algo em aguarela. Eu nunca tinha feito pintura japonesa – nunca mesmo – mas fiz o exame na Universidade de Artes de Tóquio, e por alguma ironia do destino passei. Era um mundo cheio de pessoas que levavam a arte a sério e desprezavam a manga.
Frequentaste a escola no final dos anos 1950. Nessa época a manga ainda não tinha obtido grande reconhecimento.
O meu instrutor na universidade era um pintor japonês reputado. Decidi que queria alcançar o mesmo nível e tornar-me um artista mesmo que isso significasse ser pobre. Era sobre isso que falava com os meus amigos, mas quando chegou a altura de encontrar um emprego, não havia nenhum.
Imagino que fosse difícil encontrar um emprego a fazer pinturas japonesas.
Era. Na sociedade, não havia empregos que envolvessem fazer pinturas. Então a Toei Animation1 começou a contratar.
1Toei Doga Co., Ltd.: Uma empresa de produção de animação que em 1952 foi incorporada como subsidiária da Toei Co., Ltd. Em 1992, o seu nome corporativo foi alterado para Toei Animation Co., Ltd.
Soubeste imediatamente que era o local para ti?
A primeira longa-metragem de animação que a Toei produziu chamava-se Panda e a Serpente Mágica2.
2 Panda and the Magic Serpent was the first full-length animated film in Japan. It was produced by Toei Animation, Co., Ltd., and released in 1958.
Sim, eu ouvi falar nela.
Eu vi-a quando era estudante e fiquei fascinado. Tinha crescido a ver as animações da Disney e sempre tinha sido da opinião de que a animação japonesa não valia grande coisa. Mas quando vi Panda e a Serpente Mágica mudei de ideias. Fiquei comovido por ver que o Japão podia fazer algo tão incrível. Portanto, como dizia, a Toei Animation começou a contratar.
Estava escrito.
Convidei duas das minhas colegas e disse, “Se não conseguem encontrar emprego, vamos fazer animação juntos!” Eram duas raparigas e não tinham qualquer interesse por manga. Nem sequer sabiam o que era animação. Mas acabaram por conseguir o emprego, e eu não! (risos)
Não posso acreditar. Não conseguiste mesmo?
Estava seguro de que seria aceite, por isso fiquei sem saber o que fazer. Estava verdadeiramente entusiasmado com a ideia de entrar para a Toei Animation, por isso fiquei destroçado. Mas a Toei estava na mó de cima, e pouco demorou até começarem a contratar novamente. Candidatei-me e fui aceite por pouco.
Se tivesses desistido, a tua vida e a história da animação japonesa teriam sido completamente diferentes. Quantas pessoas entraram para a Toei Animation ao mesmo tempo que tu?
A empresa estava a desabrochar nessa altura, por isso cerca de 30. Norio Hikone estava entre elas.
Ele desenhou o Uncle Carl3.
3 Uncle Carl é uma personagem popular de banda desenhada no Japão que aparece nos pacotes de snacks.
Isao Takahata também estava lá.
Takahata-san do Studio Ghibli. Era uma equipa de peso.
Ele estava no departamento de realização. Era um pouco mais velho que eu, mas entrou ao mesmo tempo.
Hayao Miyazaki, do Studio Ghibli, também veio da Toei Animation.
Miya-san é cinco anos mais novo que eu. Contudo, actualmente é extremamente distinto. (risos) Quando eu andava a desenhar “key frames” ele esteve no meu grupo durante um tempo.
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