12. Continua a provocar 25 anos depois

Estás a trabalhar em algo novo? Algo de que nos possas falar?

Estou envolvido em guias áudio e em sistemas educativos para espaços públicos com a Nintendo DS.

Oh, a sério? Independentemente de se vão vender ou não?

Certo. É muito agradável.

E não é agradável apenas porque alguém te disse que não há problema se não vender?

Certo.

Não é estranho? (risos)

Sim. Para ser sincero, estou a fazer o guia áudio porque estou certo de que será um sucesso eventualmente. (risos)

A tua persistência é realmente incrível, Miyamoto-san.

Não consigo deixar de pensar em como seria fantástico se alguma coisa fosse bem recebida. Mas não serve de nada ser tão calculista, deveria mesmo olhar para isto com mais simplicidade.

E quando fizeste o primeiro Super Mario Bros.? Olhaste para ele de forma simples?

Hmm…isso foi antes de eu ter falado com Hiroshi Yamauchi, que é actualmente o nosso Consultor Executivo, por isso ainda estava a trabalhar principalmente com a minha cabeça.

Ah, estou a ver. Mas o jogo acabou, mesmo assim, por ser bastante divertido.

Existem muitos pontos imperfeitos. Sabes, muita coisa do género de “cheats”, coisas que não constavam no design original, que surgiram acidentalmente. Claro que não planeámos essas coisas mas acabam por ser aspectos fantásticos do jogo.

Sim.

Por exemplo, quando atingias um bloco e uma moeda saía de lá, era suposto tornar-se um bloco que não poderias atingir outra vez. Mas uma vez, por alguma razão, isso não aconteceu, e quando atingias o bloco de novo, outra moeda saía de lá. Isso deveria perturbar as regras e o equilíbrio do jogo, mas quando o jogas, é muito mais divertido.

Sim, certo.

Logicamente, apenas uma moeda deveria sair de lá, e depois desaparecer, mas com duas é mais divertido. Depois criámos locais onde um montão delas saía. Se pusesses um bloco num ponto baixo, seria divertido continuar a bater com a cabeça no bloco de forma rápida, por isso acabámos por fazê-lo. Quando tentámos atingir o máximo de blocos possível num determinado período de tempo, foi mesmo divertido, por isso fizemos um sítio assim. O jogo tem muitas coisas desse género.

Estou a ver.

Os jogos tornam-se mais divertidos assim do que se planeasses tudo até ao mais ínfimo detalhe.

Quando trabalhas apenas a partir de um plano no papel, tendes a não ser muito flexível, a tratá-lo como um pai austero. Mas à medida que o jogo se vai compondo, começas gradualmente a tratá-lo como um avô ou uma avó e pensas “Se agradar aos jogadores, dar-lhes-ei quantos rebuçados quiserem!”

Cheguei ao ponto em que pergunto “Não tens de ser tão rígido, pois não?” quando estou a trabalhar com um director jovem.

És rígido quando começas como criador. Se pensares bem nisso, a rigidez é um pouco desnecessária.

Sim. Quando ainda não estamos na fase do desenvolvimento na qual tenho algo de tangível com que brincar, eu também digo “Se mudares esse único aspecto, toda a estrutura se desmoronará, por isso não posso ceder” mas quando avançamos e chego a um ponto no qual posso dizer o que verdadeiramente me vai na mente, digo: “Acho que podemos mudar isto, não achas?”.

Mas ambas são verdade, certo? (risos)

Sim. Mudando ligeiramente de assunto, uma das melhores coisas sobre videojogos é que enquanto estás a fazer um, podes testá-lo, desconstruí-lo e ajustá-lo. Então, no meu caso, a maior parte do que é importante na minha criatividade poderá surgir apenas depois de eu ter começado a trabalhar. (risos)

Oh!

Assim, quando me perguntam como faço algo, infelizmente, as famosas palavras vêm sempre à baila…

“Não consigo arranjar palavras.”

(risos)

Mas acho que hoje todos nos esforçámos por nos expressarmos com as palavras certas.

Espero que sim.

Estamos gradualmente a chegar à nossa conclusão. Passaram 25 anos desde que Super Mario Bros. foi lançado, e também tu envelheceste 25 anos. Seria óptimo se todos os jogadores envelhecessem contigo mas eles tendem a chegar e a partir por isso nem sempre isso acontece.

Pois.

Algo que também me pertence, e que não está limitado à criação de videojogos, é se há ou não problema em mostrar aos outros que estás a ficar mais velho. Pensas para ti próprio que estás bem, que o teu processo de envelhecimento é normal, e depois quando trabalhas para a associação do teu bairro, de repente dizem-te para não te preocupares mais com a recolha do lixo... até que chega o dia em que já não és bem-vindo.

Sim…

O que vais fazer em relação a isso?

Acho que os jogos que estou a fazer estão bons.

Por agora.

Sim, estão bem por agora.

Quando trabalhas com pessoas mais jovens e ouves as suas conversas, nunca te perguntas se não terás perdido o jeito?

Hmm…Não sei.

Talvez algo que tenhas dito esteja fora de moda e eles não percebem – tal como mencionar Noriko Awaya como exemplo de um cantor de blues.

Neste momento, penso que não. (risos) Mas, por vezes, tento certificar-me de que não estou “datado”.

E a quem recorres?

Tezuka-san. (risos)

Tens de te certificar com alguém um pouco mais jovem! (risos)

(risos)

Bem, de qualquer forma, não me apercebi totalmente de que perdi o jeito. A sério.

OK. Fui eu que insisti neste assunto, mas na verdade acho que estás impecável. Quer dizer, Picasso foi jovem toda a sua vida. E Shinsho Kokontei foi jovem até à sua morte.

Sim, certo.

Mas e daqui a 25 anos? Quando tiveres 85 anos, continuarás a trabalhar?

Pergunto-me o que farei. Provavelmente estarei a trabalhar em algo...isto é, se ainda estiver vivo.

Gosto disso. Estarás de certeza a trabalhar, só não sabes em quê.

Sim. Estarei a fazer algo.

Se calhar estarás a fazer sandálias de palha ou coisa assim.

Não, algo um pouco mais provocador.

“Provocador”! Adoro! (risos)

Isso seria bom.

Essa foi a resposta ideal. E…acho que ficamos por aqui. Sinto mesmo que nos conseguimos expressar por palavras.

Sim, mas talvez não tão bem que toda a gente consiga perceber.

Mas estou satisfeito por termos conseguido fazê-lo. Bem, pelo menos tentámos...não conseguimos levar de avião todos os que juntaram até ao destino, mas se calhar conseguimos um helicóptero com uma escada de corda pendurada, tal como verias num filme James Bond.

(risos)

Alguém bastante confiante poderia saltar e agarrar a escada de corda.

Confiarei nas habilidades dos nossos jogadores. (risos)