Morita-san, posso então fazer algumas perguntas sobre o jogo de pesca?
Hã? Não há problema de ser eu o primeiro?
Miyanaga-san, depois falamos sobre os níveis.
Com certeza.
Vejamos, por onde começar?
O Fishing Pond em Ocarina of Time está tão completo que se pode considerar um jogo de pesca integral. Faz parte da tradição Zelda, que mantemos até hoje. O que te levou a fazer algo a uma escala tão impressionante?
O Water Temple é no Lake Hylia. Aonuma-san desenhou essa masmorra. O boss que aí aparece é Morpha e quando o estava a fazer reparei num relevo geográfico que simulava uma piscina.
Morpha sai dessa piscina e luta com Link.
Isso mesmo. Quando estava a fazer o boss, descontraidamente...
“Descontraidamente”? (risos) Duvido que tivesses tempo para descontrações!
Mas, por algum motivo, tinha. (risos)
(risos)
Por acaso tinha o modelo de um peixe, por isso...
Ah, e foi “por acaso”? (risos)
Sim! (risos) Um modelo de um peixe para colocar dentro de uma garrafa vazia. Peguei nele e pu-lo a nadar na piscina da masmorra e, quando o vi a nadar, pensei: “Olha, agora posso ir à pesca!”
O que usaste como cana de pesca?
Peguei no modelo de qualquer coisa e tornei-o num cilindro e depois... (gestos como se lançasse uma cana de pesca)
Usaste o movimento que o Link faz para brandir a espada.
Isso mesmo. Mas, na altura, foi só por puro divertimento. Sabes, para quando precisasse de fazer uma pausa.
Quanto tempo depois é que os outros membros do projeto descobriram?
Hum, não muito tempo.
No início, não fazia ideia que ele andava a fazer aquilo.
Pois não. Aonuma-san abordou-me e eu pensei “Bolas!” e desliguei logo o ecrã.
(risos)
Bem, supostamente estarias a fazer um boss!
Já tínhamos adiado o projeto várias vezes, por isso fazer um boss era urgente. Devias estar a fazê-lo! (risos)
De qualquer modo, por algum motivo, o jogo da pesca começava a ficar composto e...
“Por algum motivo”?! Sim, porque estavas a entregar a tua energia a esse projeto! (risos) É assim tão fácil fazer um jogo de pesca?
É. Não tive de me dedicar muito.
A sério...?
A sério. E ficou tal e qual como tinha imaginado.
Ah, então já tinhas uma ideia definida do jogo antes de o fazeres?
Sim.
Não tivemos de modificar quase nada.
Estou a ver. Desde o início que tinhas em mente uma imagem muito clara do que querias fazer.
Sim. Com os materiais e o sítio certo, sabia que o podia completar a tempo.
Então, Miyanaga-san, tiveste de criar o tal relevo natural.
Sim. Um dia, de repente, a equipa de design da paisagem recebeu um pedido e foi-lhe dito: “Precisamos de um sítio para pescar!” Mas não sabíamos onde o colocar.
O jogo de pesca, na verdade, não tem nada a ver com a aventura do Link.
Pois não! (risos) Mas se conseguíssemos criar um jogo realista de pesca, toda a gente o queria incluir, mesmo que isso significasse um aumento da carga de trabalho.
Estávamos todos muito entusiasmados e dizíamos: “Temos de incluir isto no jogo!”
Achámos que um buraco de pesca deveria estar perto da água e então o sítio escolhido foi Lake Hylia. Mas não tínhamos originalmente planeado isto, por isso desenhámos umas portas numa parte vazia de um penhasco onde o lago acaba. (risos)
Sim! Incluímos a pesca à força! (risos)
É considerado um minijogo mas, na realidade, não é assim tão pequeno. Tivemos de criar uma divisão diferente para ler esses dados.
Portanto decidiram-se num sítio para o Fishing Pond e tiveram de criar conteúdos. Fizeram muitos pedidos, por exemplo para a criação do Pond Owner de que falámos antes?
Em vez de entregar pedidos, tornei-me responsável pelo design! Ia coordenando tudo: “Põe os montes aqui”, “Põe as ervas flutuantes ali...”
Criámos a base e depois Morita-san desenhou tudo, até a posição das ervas flutuantes.
Quando um programador é ambicioso, é mesmo assertivo! (risos)
O Fishing Pond usa sons de batalhas, não usa?
A ideia era criar tensão.
Essa melodia foi introduzida a teu pedido?
Bem... Sim.
Até tomaste decisões sobre o som?
Fiz o pedido e eu próprio introduzi o som, e assim ficou.
Quando dizes “pedido”, queres dizer que levaste e usaste o que querias sem autorização! (risos)
Pois. Foi isso mesmo que se passou. (risos)
(risos)
Ficaria em sarilhos se o fizesse hoje. A equipa de som diria: “Não podes usar isso!”
O Fishing Pond foi mesmo a tua terra sagrada! (risos)
Morita-san podia fazer tudo o que quisesse ali. (risos)
Nós não passávamos de assistentes. (risos)
Desculpem. Agradeço imenso! (risos)
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