Hoje vamos falar com Koinuma-san, responsável pela série Warriors1 na Tecmo Koei Games.2 Muito obrigado pela tua presença. 1 Série Warriors: Série de jogos com base no jogo Dynasty Warriors 2. Consiste em jogos de ação em 3D em que os jogadores enfrentam vários adversários. A série é constituída por muitos jogos, tais como Samurai Warriors, Dynasty Warriors: Gundam e Fist of the North Star: Ken's Rage. 2 Tecmo Koei Games Co., Ltd.: Empresa criada a partir da fusão da Koei Co., Ltd. com a Tecmo, Ltd. em 2010. Sede: Yokohama, prefeitura de Kanagawa.
Eu é que te agradeço o convite.
Antes de começarmos a falar sobre SAMURAI WARRIORS: Chronicles, o novo jogo para a Nintendo 3DS, gostaria que falasses um pouco sobre o teu envolvimento com videojogos. Há quanto tempo foi o teu primeiro encontro com este mundo?
Tenho a memória um pouco turva, mas o meu interesse por videojogos nasceu definitivamente na terceira classe da escola primária.
Que tipo de jogos te interessava mais na altura?
Gostava imenso de um jogo arcade chamado Head On.3 3 Head On: Jogo de arcade lançado pela SEGA Corporation em 1979, largamente reconhecido como sendo o primeiro jogo dot-eating (de comer bolas ou pontos) de sempre.
Ah, Head On? Havia um labirinto e tinhas de o percorrer de carro enquanto apanhavas pontos, não era?
Isso mesmo.
Porque é que te interessaste tanto por jogos arcade e tão cedo?
Tenho um irmão que é três anos mais velho que eu e, certo dia, ele levou-me ao salão de jogos arcade da família de um amigo.
Então criaste uma ligação com jogos arcade quando eras ainda pequenino.
Sim. Mesmo antes do lançamento da Famicom, já eu jogava Donkey Kong4 e Mario Bros.5 no salão de jogos. 4 Donkey Kong: Jogo de ação arcade lançado em 1981. A versão para a consola Famicom surgiu em 1983. 5 Mario Bros.: Jogo de ação lançado para os salões de jogos em 1983, tendo sido lançado no mesmo ano para a Famicom.
Estou a ver. Então foi aí que começaste a gostar de jogar videojogos. E quando é que começaste a pensar em fazê-los?
Comecei a pensar em fazer videojogos na escola preparatória. Conhecias a revista “BA(bay)-Maga”?
Sim, sim – lembro-me dela. Deves estar a referir-te à My-Com BASIC Magazine.6 6 My-Com BASIC Magazine: Revista japonesa sobre informática, publicada pela Dempa Publications, Inc. de 1982 a 2003.
Isso. Havia uma página que indicava poderes submeter os teus próprios programas.
A Internet ainda não existia, por isso as revistas mensais eram a principal fonte de informação. Podias experimentar os programas que vinham com ela ou então enviar programas feitos por ti.
Exatamente. Os computadores pessoais eram muito caros na altura, e eu era apenas um miúdo que andava na escola preparatória, por isso não podia comprar um. Mas imaginava programas e escrevia-os à mão só pelo gozo. Apesar de não saber se iriam resultar! (risos)
Acho que muitos adeptos de videojogos na altura abordaram a direção da revista na perspetiva da programação. Eu próprio sou exemplo disso.
Sim. Eu queria muito ter um computador e implorei aos meus pais que me deixassem utilizar parte as minhas poupanças Otoshidama para comprar um. Mas nunca me deixaram... (Nota de edição: No Japão, os pais e a família em geral oferecem às crianças dinheiro a que se chama “Otoshidama” durante os primeiros dias do Ano Novo, mas é frequente os pais gerirem e controlarem estas poupanças.)
Então, durante uns tempos, foste um programador em pensamento apenas. (risos)
Pois é. (risos) Ia a casa de amigos e pedia para me deixarem usar o que apelidávamos de computadores de tempos livres, tipo o Family BASIC7 e o Pyuta.8 Acho que foi assim até à escola secundária. 7 Family BASIC: Produto periférico para a Famicom lançado em junho de 1984. Tinha um teclado para os utilizadores criarem os seus próprios programas simples de videojogos. 8 Pyuta: Computador de tempos livres lançado pela Tomy Kogyo Co., Ltd. (agora Tomy Co., Ltd., também conhecida como Takara Tomy). Permitia aos utilizadores criarem os seus próprios videojogos.
Então não tiveste grande contacto com computadores antes da universidade?
Não. Na altura, não havia muitas universidades ou departamentos focados em tecnologias da informação. Mas eu queria ir para um sítio com bons recursos informáticos, por isso fui para o Departamento de Eletrónica e Engenharia Informática da Universidade de Tokyo Denki. Foi nessa altura que comecei a utilizar computadores com regularidade.
Usavas muito os computadores da faculdade para coisas não relacionadas com as aulas?
Bem, para dizer a verdade, gosto tanto de videojogos que trabalhei a tempo parcial num salão de jogos arcade, desde a escola secundária até acabar o curso da faculdade. Por isso passava muito tempo a jogar videojogos no salão. (risos)
(risos) E quando chegou a altura de te decidires por uma profissão, qual foi o teu raciocínio na escolha da empresa?
A decisão já estava tomada antes de entrar sequer na universidade: queria trabalhar numa empresa de videojogos.
Ah sim? Então foi por isso que escolheste aquele departamento?
Sim. Na fase de procura de emprego, só me candidatei a três posições em empresas de videojogos. Em 1994, entrei na Koei9, que agora se chama Tecmo Koei Games. 9 Koei Co., Ltd.: Empresa criadora e distribuidora de videojogos fundada em 1978. Em 2010, fundiu-se com a Tecmo, Ltd.
A Koei ainda não tinha lançado a série Warriors.
Não, não.
Um dos jogos mais representativos era o Nobunaga’s Ambition.10 10 Nobunaga’s Ambition: Jogo de simulação histórica lançado pela Koei Co., Ltd. em 1983 no Japão.
Na altura, tinham o jogo Romance of the Three Kingdoms11 e um jogo de corridas de cavalos chamado Winning Post.12 Muitas vezes perguntam-me: “Porque é que foste para a Koei?” Na escola secundária, eu era membro do clube de astronomia e a sala do clube tinha um computador e o Romance of the Three Kingdoms. 11 Romance of the Three Kingdoms: Jogo de simulação histórica lançado pela Koei Co., Ltd. em 1985 no Japão. 12 Winning Post: Jogo de simulação de corridas de cavalos lançado pela Koei Co., Ltd. em 1983 no Japão.
Por que motivo tinha a sala do clube de astronomia uma cópia do Romance of the Three Kingdoms?
O computador tinha sido lá posto originalmente para simular os corpos celestiais, mas um dos membros mais velhos do clube tinha trazido o Romance of the Three Kingdoms.
E tu jogaste-o. (risos)
Claro. (risos) Foi assim que soube da existência de uma empresa chamada Koei. E havia uma “Dagashiya” (loja de guloseimas) que me deixava usar o computador quando estava na escola secundária. (Nota de edição: na época da infância e adolescência de Hisashi Koinuma, era habitual ver em todo o Japão pequenos negócios de família direcionados para crianças. Chamavam-se “Dagashiya” e lá vendiam-se petiscos, guloseimas, brinquedos e bugigangas.)
O quê? Jogavas computador numa loja de guloseimas?
Sim. (risos) Acho que dava para jogar durante meia hora por 50 ou 100 ienes (€0,40 ou €0,80).
Ah, bom! Tinhas de pagar para jogar.
Claro. (risos)
Lembro-me de ver lojas de guloseimas com consolas Famicom que se podiam jogar à hora, mas…
Algumas também tinham computadores.
Uau.
E foi assim que joguei o Nobunaga’s Ambition pela primeira vez. Por isso, para mim, a Koei era…
Uma empresa que já conhecias desde os tempos da escola secundária.
Sim. E foi assim que decidi trabalhar nessa empresa.
Muito bem. A vida funciona de forma misteriosa. Acho que o destino nos guia até às pessoas com quem nos cruzamos e ajuda a decidir onde estamos agora.
Não há dúvida!
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